Água tratada: a linha invisível que separa a saúde das doenças

por LEANDRO SOARES - Jornalista / MG19451 — publicado 12/09/2025 13h20, última modificação 01/10/2025 20h21

Imagine um dia sem água limpa na torneira. Tomar banho, cozinhar, beber, lavar as mãos — tarefas simples do dia a dia — se transformariam em um risco silencioso à saúde. O que para muitos brasileiros parece natural ainda é um privilégio distante para milhões de pessoas que não têm acesso a água tratada ou a redes adequadas de esgoto. E é exatamente nesse ponto que mora uma das maiores barreiras contra as doenças: o saneamento básico.

Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 80% dos casos de diarreia infantil estão diretamente ligados ao consumo de água contaminada ou à falta de tratamento de esgoto. Doenças como hepatite A, cólera, leptospirose e verminoses encontram na ausência de saneamento um terreno fértil para se espalhar, lotando hospitais e afetando principalmente as populações mais vulneráveis. No Brasil, os números são alarmantes: em 2023, foram registradas 11.544 mortes por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI). Em 2024, o país contabilizou mais de 344 mil internações por essas mesmas causas, com um custo significativo para o sistema de saúde.

A realidade é chocante: de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2 bilhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso à água potável gerida de forma segura. As consequências disso não são meramente números em um relatório; são leitos de hospitais ocupados, dias de escola e trabalho perdidos e vidas interrompidas por males completamente evitáveis.

Mas a questão vai além dos números. Quando falamos em saneamento, falamos também de dignidade, de desenvolvimento social e de futuro. Cada litro de água tratada distribuído e cada metro de esgoto coletado e destinado corretamente significam menos crianças faltando à escola por problemas de saúde, menos famílias comprometendo sua renda com remédios e menos pressão sobre o sistema público de saúde.

Especialistas destacam que investir em saneamento básico não é apenas uma política de saúde, mas também uma medida econômica. Para cada real investido em água e esgoto, o país economiza até quatro reais em gastos hospitalares. Uma equação simples que revela a importância de transformar o saneamento em prioridade nacional.

Enquanto cidades modernas buscam soluções inovadoras, como sistemas inteligentes de monitoramento e reaproveitamento de água, ainda há comunidades brasileiras vivendo à margem do direito ao básico. É nesse contraste que surge a urgência do debate: não se trata de luxo, mas de sobrevivência.

A água que chega tratada à sua torneira é mais do que transparência líquida. Ela é sinônimo de vida, de saúde e de proteção. Por trás de cada gota, existe uma barreira invisível contra doenças que ainda desafiam a humanidade. Garantir esse acesso não é apenas uma questão de infraestrutura, mas de justiça social.

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